terça-feira, 20 de novembro de 2007

GENIALIDADE ANTES QUE TARDIA

Navegando pela internet lí um artigo sobre a genialidade de Oscar Wide, escritor londino, que escandalizou aquela sociedade com sua vestimenta e seus pensamentos, totalmente desconectados com a época em que viveu. Tal artigo me remeteu ao seu mais famoso livro: O Retrato de Dorian Grey. Lembro de ter lido essa obra, a alguns anos atrás e o quanto me fascinou a fluência da leitura e sua narrativa. Wide questionava em plena revolução industrial londrina, o culto à estética e até onde o ser humano seria capaz de ir para conquistá-la. O visionismo desse escritor mostrou em sua obra o sacrifício que muitos de nós, nos dias atuais, através de academias de ginástica, clínicas de estética, aplicações de substâncias desenvolvidas em laboratórios, sempre com a promessa de rejuvenescimento, nos submetemos. Wide, em suas obras, também questionou e criticou o comportamento social, e vítima da própria sociedade, foi preso e condenado por amar e ser amado (Wide era homossexual). Mesmo atualmente, ainda estamos longe de conquistar o domínio de nossas escolhas sem que incomode um todo. Oscar Wide morreu em seu exílio, pobre, e totalmente dependente da boa vontade alheia. A história se repete nas figuras de Van Gogh, Gaugin, e tantos outros gênios da humanidade, onde a sociedade novamente toma a postura de inquisitora e ceifa esses personagens ilustres. Nada como o tempo, para retratar e se render à importância de figuras com Oscar Wide, mesmo que tardia.

sábado, 10 de novembro de 2007

EXPRESSO PARA A ÍNDIA











A alguns anos atrás, tive a oportunidade de visitar um país possuidor de uma cultura extraordinária. Confesso que ao desembarcar em Nova Déli-Índia o calor sufocante do mês de julho me fez lembrar de nosso país, porém com uma curiosidade que se transformou em um grande sufoco: 40 graus de temperatura 'as 23:00h. Em meu caminho para o hotel, fiquei encantado com a grande quantidade de familias reunidas nas várias praças da cidade, uma espécie de picnic coletivo, sem perceber que na verdade estavam fugindo do calor sufocante de seus lares. Na manhã seguinte foi onde realmente descobrí o quanto estava quente a ponto da pressão arterial de meu corpo baixar a níveis extremos. Estava realmente na Índia. Terra de Gandhi, do sagrado Rio Ganges, das especiarías cobiçadas pelo mundo inteiro desde as grandes navegações, o limite do mundo para o macedônio Alexandre - O Grande, um povo que cultua 30.000 Deuses, e tantas outras descobertas mais. Uma mistura de surpresa, medo, curiosidade e muito calor, tomaram conta de meus pensamentos, pois é uma experiência única interagir com um povo que tem sua origem anterior ao nascimento de Cristo (nossa referência de tempo cronológico).Com uma população local de 20 milhões de habitantes, Déli, uma cidade dividida em duas partes - a Nova e a Velha Déli - encontrei referências arquitetônicas de vários períodos da história, convivendo em total harmonia. Uma frota automotiva sucateada, se mistura com as bicicletas, camelos, dromedários, elefantes e é claro as famosas vacas indianas (cultuadas e respeitadas por todos), traçando um paralelo com o fator econômico de um país de muita riqueza e também muita miséria. Hábitos que para nós ocidentais são tão banais, para o indiano são inexistentes. O uso do papel higiênico, o sabonete, o xampoo, desodorante e outros produtos de higiene íntima, são desconhecidos pela maior parte da população indiana. São produtos muito caros, encontrados somente nos hotéis para estrangeiros (que particularmente considerei como verdadeiras ilhas de luxo rodeadas por muita miséria). Fica a pergunta no ar - como então é feita essa higiene? Bem, a água é o único elemento determinante para tal procedimeto, lava-se tudo a toda hora. Acostumei a ver em todos o sanitários que entrei, a famosa canequinha para a coleta da água (inclusive nos banheiros do aeroporto). Hábitos 'a parte, o povo indiano nos encanta com sua hospitalidade, com o sorriso sempre estampado no rosto, a humildade humana, rara aos ocidentais, a espiritualidade constante, as histórias de seus Deuses, e o total desprendimento ao materialismo. Visitei templos Indus, Mesquitas e muitos altares dedicados a seus deuses. Assim como a sagrada vaca - o macaco, o rato, a barata, o elefante, também possuem seus próprios templos. Mas para esse arquiteto, o mais belo templo que conhecí foi o Taj Mahal - templo dedicado ao amor de um rei 'a sua rainha. Encantador em suas paredes de mármore branco que refletem intensamente o sol, cegando-nos de tanta beleza. Levaria muitas páginas para descrever tantas descobertas desse país de contradições. Deixo ao pensamento dos leitores a continuidade dessa viagem. O Expresso para a Índia.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

ERROS E ACERTOS = EQUILÍBRIO






Quando estou absorto em meus projetos, avalio muito a espectativa do cliente em relação ao resultado do mesmo. Normalmente essa espectativa está relacionada a transferência dos anseios, status, e principalmente 'a transformação do espaço físico intervido no espaço realmente almejado. Lidamos com mudanças internas, pois para se mudar o interno temos que começar pelo externo. Em se tratando de uma residência, normalmente detecto na entrevista com o contratante a intensa vontade de mudar, e em determinados casos ouço a palavra "evoluir", mas de que forma tratamos essa evolução. A psicologia da Arquitetura está na conquista do equilíbrio externo, motivando assim o equilíbrio interno do cliente. Tarefa árdua, pois é um mergulho no vazio, pois não existe uma fórmula ou mágica conhecida, capaz de entrar no pensamento da pessoa no qual você está atendendo. nada mais me resta senão trabalhar com a estatística do erro e acerto. Um primeiro tiro, normalmento no escuro, baseado na análise superficial e materializada em uma folha de papel tamanho A3. Quando apresento minha primeira idéia, mantenho meu foco na reação de meu cliente, pois a linguagem corporal não mente. O olhar, o sorriso, o balançar das pernas, a coceira na cabeça são sinalizações do resultado que está sendo avaliado. Nisso a transferência de espectativas se confirma. A espectativa do acerto, ou meio acerto, ou total erro me consome até o momento das primeiras palavras ou melhor dizendo, do primeiro diagnóstico de meu pensamento, representado ali graficamente. Ufa, depois disso, tudo se torna mais fácil (porém, não tão fácil), pois surge uma diretriz, um caminho de pensamentos, para dessa forma enfim, identificar o que realmente se almeja no projeto. A partir desse momento, criador e criatura começam a caminhar juntos, novamente num jogo de erros e acertos, na busca do equilíbrio. Com o passar dos anos de profissão, comecei a me sentir confortável com essa situação, porém sem nunca descartar a famosa linguagem corporal. Na busca do equilíbrio, me torno o divã do terapeuta, ou melhor, o caderno de anotações do mesmo, absorvendo todas as nuances do paciente para então esboçar graficamente os anseios, e tantos outros sentimentos que ali se escondem. Quem se habilita?

REGISTROS PELAS LENTES DO MEU CELULAR

Imagens: Denis Sarges e Rafael Souza